segunda-feira, 26 de novembro de 2007

MINHA PRIMEIRA MARATONA - Por Conceição Soares

Tchê gruizada, este relato que segue abaixo é um história, veridica e verdadeira, daquelas de ler tomando chimarrão pra afinar a urina... Primeiro quero deixar minha homenagem a este casal maravilhoso, que a muito nos conheçemos, Eles sabem que são minha familia, e por tudo que já passamos, as barras que já seguramos tantO de um lado quanto do outro, digo, "Sei que faço parte desta familia"..... Parabéns São, a vida nos traz alegria porém nos delega o dever de conquista-la..... Parabéns Pedro, ainda lembro da velha história....... do chocolate com aliança dentro ........ Momentos como este, histórias e declarações de amor como esta, nos mostram que a queda nos serve para crescer......... UMA MARATONA QUE REBROU MUITOS RECORDES, INCLUSIVE O DO AMOR....... Deco...... ---- Berlim, setembro de 2007: -A cidade que nos recebe tem o colorido do outono nas árvores e uma temperatura amena, ideal para a corrida que me espera. O povo berlinense é amigável e receptivo, talvez porque já esteja bem acostumado com a invasão de atletas nesta época do ano, afinal, esta será a 34a edição da Real-Marathon de Berlim e uma das 5 melhores do mundo (junto com NYC, Boston, Chicago e Londres). Chegamos na 4a feira anterior à prova, a fim de conhecermos a cidade sem nos cansarmos muito para estar bem no domingo. Ficamos num hotel imenso na parte oriental da cidade: com 34 andares e 1000 apartamentos, o hotel era uma salada de nacionalidades, onde aos poucos íamos identificando os que tinham vindo para correr. No domingo, acordamos às 5h30 e descemos para tomar café. Me surpreendi com a quantidade de gente no salão de café da manhã: acho que só ali tinha mais corredores do que muitas de nossas provas no Gasômetro. Que loucura! O astral de prova já estava no ar: um misto de excitação, ansiedade, entusiasmo e, claro, muita alegria! O coração acelera só de pensar no que está por vir! Resolvemos pegar o metrô até a largada, pois o negócio é economizar as pernas o máximo possível. Todas as estações lotadas, alguns corredores bem agasalhados – fazia uns 10oC mais ou menos -, outros, como nós, só de calção e a parte superior do corpo de agasalho mais quente. O kit que recebemos era uma mochila de nylon laranja contendo além dos itens básicos – camiseta e número de peito- uma esponja e uma amostrinha de desodorante aerosol ADIDAS (patrocinador oficial), fabricado pela Coty. Ok, demonstração do produto, certo? Errado! Descobri já no metrô, naquela manhã mesmo. Dentro do trem , o aroma de humanidade era algo! Sentei ao lado de um italiano que devia ter uns 2 dias sem banho, claro, para que banho, se depois da prova é que ia ter que rolar um com certeza! Aff, que nojo!! Voltando ao kit, as únicas coisas que a inscrição na maratona dá direito é ao número de peito, a entrada na feira oficial ( aconteceu de 5a a sábado) e a medalha. Chip? Paga-se 6 euros pelo aluguel! Camiseta? Escolha entre vários modelos com preços variados. E dê-lhe cartão de crédito! Bem, continuando... Saltamos na estação mais próxima e ainda tivemos muuuito que caminhar até o local para deixar as mochilas: inúmeras tendas com a numeração de acordo c/ o número de peito. Mulheres separadas dos homens, nossas tendas não podiam ser mais longe, ao lado dos cadeirantes e dos deficientes, seria isso por afinidade?! Bom, só sei que nós, mulheres, caminhávamos muito mais para deixar e buscar nossas tralhas! Enquanto íamos para a largada, olhamos em volta e só o que víamos eram os pontinhos laranja das mochilas do kit. O Nelson comentou : “gente, isso é uma insanidade coletiva”. Realmente, nessa altura, só o que eu pensava era: onde eu me meti? por que fui inventar esse negócio de maratona? Par que isso? E comecei a corrida com essas perguntas martelando minha cabeça. Aquela 1 hora e meia que ficamos ali até a largada passam voando, pois a gente se distrai olhando as pessoas à nossa volta – e, no meu caso, eram muuuitas pessoas, pois larguei no último pelotão, o dos “sem tempo” ou com tempo alto - imaginando o que move cada uma, quanto cada uma pretende correr, quais vão acabar e quais vão parar no meio, etc. Quando a sirene tocou, soltaram milhares de balões de gás amarelos, e tem uns 2 ou 3 helicópteros cobrindo a corrida. As pessoas começam a tirar os abrigos e capas de chuva ( só ameaçou chover antes da prova) e jogam para o meio da pista ou para o parque. Levei “apenas” 21 minutos para passar o tapete, enquanto isso tocou “Poeira” com Ivete Sangalo e aí arrepiou até o ... deixa pra lá. Afff, que emoção! O percurso da maratona é lindo, pois Berlim é linda: saímos do Portão de Branderburgo (que separava o lado ocidental do oriental) em direção à Coluna Vitória, num percurso totalmente plano, passando por todos os pontos turísticos da cidade, sempre com muito público incentivando com cartazes, bandeiras, instrumentos musicais e palavras. Passamos por inúmeras bandas e conjuntos, tocando jazz, música clássica, música típica e até samba! Umas só com percussão, outras até com vocais... enfim, uma imensa festa popular! Entre os corredores, alguns casos à parte: tinha Obelix, anjo, romano e até uma espanhola de peruca preta e tudo! Eu tinha combinado com o Coach Daniel Rech de fazer o meu ritmo tranquilito para não caminhar e chegar inteira no final. Só parar nos postos de água (de 3,5km em 3,5km +ou-). Até o km 33 foi assim que fiz, até o 30km estava me sentindo suuuper bem, a respiração lá é muito tranqüila, acho que em função da baixa umidade, sei que passei bem melhor do que esperava, e só pensava nas palavras do Coach: tua prova começa nos 30km! A partir dos 33, começou o horror, muito cansaço, vontade de caminhar, mas não cedi à tentação e só pensava nas minhas filhas perguntando: que tempo tu fez, mãe? E isso me dava forças pra correr, e assim cada km que eu avançava, pensava, menos um pra caminhar... E pensava nas gurias... E pensava no Dani, que nunca duvidou que dava pra fazer! Meu maior longo tinha sido de 27km, e esses 15km a mais que eu fiz em Berlim saíram com muito esforço, mas saíram... E eu provei pra mim mesma que é possível: começar a correr com 39 anos, depois de anos semi-sedentária, com colesterol alto, com filhos, casa e trabalho pra conciliar... O tempo foi ruim, 4h40, mas a sensação de cruzar a chegada e receber a medalha seria a mesma se tivesse feito em 3horas! O sentimento de alegria, de satisfação permanecem durante muito tempo e a gente se pega pensando por que, e aí lembra do “feito”. Não é insanidade coletiva, não, Nelson, é vontade de se superar e de sentir o poder das endorfinas, somado ao amor pelo esporte e pela própria VIDA! Muito obrigada Daniel Rech, pela amizade e pela força antes, e por acreditares! Obrigada, Sílvio, pela força durante! Obrigada, Irene, a visão da bandeira do Brasil nos km 20 e 36 deram um fôlego extra! Obrigada, Nelson, tua prova foi um exemplo de coragem! Obrigada, Júlio Argentino, por me acompanhares nos longões! Cecília, valeu a parceria em 2 longos: só tu mesmo! E finalmente, obrigada, Pedro, meu Gordo, por me incentivares e fazeres de tudo pra que eu treine: te amo pra sempre! Conceição Soares... "Prenda Faceira como mosca em rolha de xarope."

4 comentários:

  1. Conceição, que legal teu depoimento, tens o dom da escrita, acabei me transportando para lá. Parabéns,foste uma guerreira e és uma vencedora. Fico feliz de ter vocês como novos amigos, que casal lindo vocês formam! Mil beijos.

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  2. Ah, não posso me esquecer das meninas, elas são uma paixão, parabéns!

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  3. Mãe,
    Pra primeira maratona não foi nada ruim...
    Também ficamos pensando muito em vcs no dia da prova.
    Parabéns.
    Bjoo.

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  4. Conceicao. Adorei ler teu relato, traduz realmente o que foi a prova pra ti e como te sentiste. Parabens por esse feito maravilhoso e por entrares nos seleto "rol dos maratonistas". Sao poucos que tem a coragem que tiveste de treinar e te dedicar a esse tipo de prova. Eu sempre te disse, tu quer entao vamos juntos. Parabens novamente e obrigado pela confiança. Bjs Dani

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